Entrevista com Edvaldo Ezídio dos Santos “John”

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Compositor, produtor e comunicador: o idealizador por trás do Festival Igara Rock e da produtora Rock n’ John.

Aqui trago algumas memórias e reflexões muito valiosa para dar luz àquele que dá voz e vez aos artistas independentes. Acompanha comigo um pouco da carreira e a vida de Edvaldo Ezídio dos Santos, o Eddy para os mais íntimos ou John, para o grande público.

Inquieto e incansável, a trajetória deste pensador urbano começou na simplicidade das tradições gaúchas e encontrou propósito na militância pela cultura. Através das palavras pelo rádio ou dos acordes de sua guitarra, ele faz da arte independente uma forma de resistência.

Qual foi teu primeiro contato com a música?

Interessante esta pergunta. Eu tinha uns 8 ou 9 anos de idade, e posso me confundir entre duas hipóteses. Meus pais e meus tios eram muito ligados à música, à dança e à poesia mais na parte gauchesca e tradicionalista. Meu pai toca gaita, faz poesia e toca violão, e meu tio também toca. Lembro das festas de família em que eles tocavam, principalmente Teixeirinha, Gildo de Freitas e Os Serranos.

Uma lembrança muito clara e carinhosa dessa época foi de um rádio que eu ganhei era todo de madeira e nele eu escutava a Rádio Cidade e a Rádio Universal.

Quando tu percebeste que tinhas uma carreira de músico?

Muito interessante esta pergunta. Eu lembro que muitas vezes participei como violeiro no CTG Brazão do Rio Grande, tocando para acompanhar grupos de música tradicionalista em bailes e rodeios.

Eu não posso dizer que já me sentia numa carreira musical, mas lá por 2010, quando comprei uma guitarra e montei uma banda com um amigo o Etênio Bugrão , compusemos algumas músicas e fomos tocar em alguns bares na Cidade Baixa. Então esse sentimento de que eu tinha uma carreira de músico começou a surgir.

Quais são tuas principais influências

Bom, fora o tradicionalismo, que foi uma fase da minha vida, no final da década de 80 eu comecei a frequentar os bares da Osvaldo Aranha, em Porto Alegre. Era o auge do movimento punk e da contracultura ali estavam Os Replicantes.

Também circulavam por ali vários artistas que se tornaram famosos, como Cascaveletes e TNT, dessa onda do rock gaúcho e do rock inglês mas o punk rock foi a influência que ficou, além da surf music, porque eu surfava. Diria que as bandas que me influenciam até hoje são Ramones e Led Zeppelin.

Viver de música, pra ti, representa o quê?

Eu não saberia dizer, pois não vivo de música. Pra mim seria um sonho a melhor coisa do mundo. Vivi muito tempo como CLT, trabalhando de segunda a sexta, às vezes sábado. Sou oriundo do chão de fábrica. Meu pai foi metalúrgico, e até minha banda foi criada dentro da Petrobras mas deve ser um sonho poder viver de compor música.

Foto crédito: Google

Qual tua música favorita da vida? e por quê?

Gente, essa pergunta é muito capciosa pra quem vive a música… Tchê! é difícil.
Vou eleger assim, cara: Rockaway Beach, dos Ramones, seria a que eu mais gosto e olha que ecletismo, mas assim é o John! a música favorita da vida seria Orações de Campo, que eu nem sei o autor. Lembro que o Marcelo Rosa, daqui de Canoas, participou da composição e até apresentou ela no festival Canoa da Canção Nativa. É uma música muito emocionante, falando do camperismo gaúcho.

Qual o show mais marcante da tua carreira?

É difícil essas perguntas de escolher só um… porque foram tantos… Mas lembro de um grande momento com a Vulva Quântica, quando a gente tocou no Fórum Social Mundial, em 2017 ou 2018…

Qual a pior dificuldade em ser artista hoje em dia?

Num país como o Brasil que já foi muito pior pra se fazer arte existem várias dificuldades, mas a principal, acho, é o dinheiro. Se o cara não é herdeiro e não consegue uma forma de custear a própria produção, vai precisar de patrocínio. Isso pro artista autoral e independente, né? Porque um músico de covers, por exemplo, vai dar um jeito de animar festas e arrecadar algum. Mas o artista independente, autoral, sofre e precisa fazer várias estratégias pra custear sua arte. Então, eu diria que o dinheiro é a maior dificuldade.

Qual o pior show que tu já realizaste

Essa é muito fácil, porque sempre lembro desse show e é uma unanimidade na minha banda e na minha família. Esse episódio até virou uma música recentemente, chamada Noite Trash, que conta a história de uma subida pra Caxias do Sul que fizemos pra tocar num lugar chamado Porão do Rock.
O lugar não tinha nada de equipamento nem divulgação do show, não havia microfone, cabo, nada só tomadas e um palquinho com carpete. Então fiz uns contatos na cidade e comecei a arrecadar equipamentos até rolar.
Começamos o show com horas de atraso, e mesmo assim compareceram algumas pessoas. Já fiz vários shows ruins, mas com certeza esse, em 2017, foi o pior da VQ.

Qual leitura tu recomendarias para teus filhos?

Leitura… com certeza Paulo Freire, Trotsky, Karl Marx, Pedrinho Guareschi, Djamila Ribeiro e outras mulheres temos tantas escritoras interessantes…
E algo que eu mesmo escrevi minhas ficções ou os documentários de rock.

Qual filme ou série tu assistirias mais de uma vez

Agora pegou num outro vício meu. Não só assistiria, como já assisti muitas vezes a série Breaking Bad, e já estou planejando assistir de novo, porque estou com saudades (risos). A série Dr. House também já assisti várias vezes… e outra que estou ansioso pela nova temporada é O Problema dos Três Corpos. Nerd mesmo!

Se tu pudesse ser um personagem ou outra pessoa, quem tu gostarias de ser e por quê?

Sabe que estava conversando com minha esposa sobre isso. Nós somos privilegiados, pois fizemos faculdade, somos bem informados e estamos sempre procurando mais informação mas isso dá uma certa depressão porque parece que quanto mais estímulos, mais os neurônios ficam lotados de informação.

Às vezes eu queria ser alguém mais alheio a tudo e talvez até mais alienado, sabe? Viver fora, isolado, como um monge. Lembro de uns ancestrais meus que viveram da terra e não se preocupavam com boletos. Então, eu queria ser algum ancestral despreocupado e com uma vida mais simples.

Que mensagem tu gostarias de pichar num muro?

“VOLTE A SER COLETIVO!”
A sociedade anda muito individualista e egoísta.

Foto crédito: Google

O que é essencial pra ti?

Eu me considero ateu, né? o essencial pra mim é deixar o mundo melhor do que quando eu cheguei. Eu cheguei aqui em 1973 e, em breve, estarei me reunindo de novo com os elementos da natureza. A gente passa e aproveita o intervalo entre chegar e sair (risos). Acho que devemos fazer o bem, não ser egoístas, e entender que esta vida é apenas orgânica. Devemos respeitar o meio ambiente e as pessoas.

Instagram: @oficial_rocknjohn

Clipe banda Vulva Quântica –  Bugrão

Edição: Isabel Kurrle

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